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Mês da Visibilidade Trans: 4 passos para transformar uma realidade

Mês da Visibilidade Trans: 4 passos  para transformar uma realidade
Gabriel Teixeira
jan. 21 - 9 min de leitura
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Há 18 anos, no dia 29 de janeiro de 2004, um grupo de mulheres transexuais, travestis e homens trans se reuniram pela primeira vez em Brasília, no Congresso Nacional, para o lançamento da campanha “Travesti é Respeito”. Esse ato é considerado até hoje um marco histórico na luta por reivindicação de direitos de pessoas transgênero e contra a transfobia, imortalizando assim janeiro como o Mês da Visibilidade Trans.

                                             (Ilustração de Ellie Irineu)

Apesar de quase 2 décadas desde essa data, pouca coisa mudou. O Brasil continua sendo o país que mais mata pessoas transexuais no mundo e nem mesmo a pandemia foi capaz de frear essa realidade alarmante: em 2020, segundo relatório da Antra, houve um aumento de 41% de assassinatos contra pessoas trans no país, taxa superior aos 5% de aumento para o restante da população.

Além disso, de acordo com estudo realizado também pela Antra, a expectativa de vida de homens e mulheres trans é de apenas 35 anos. Isso é equiparável à expectativa de vida na Idade Média, quando não havia penicilina ou saneamento básico.

Uma das grandes dificuldades da população T é a inclusão no mercado de trabalho. Devido ao grande preconceito, a luta dessas pessoas já começa desde a infância, muitas são expulsas de casa quando os pais descobrem sobre sua identidade de gênero ou abandonam a escola por discriminação na sala de aula. Esses fatos potencializam outro dado alarmante, cerca de 90% de mulheres trans e travestis vivem da prostituição como única fonte de renda (Antra).

Essa realidade está mudando, porém, a passos de tartaruga, visto que um levantamento aponta que, em 2021, 20% da população trans estava desempregada e mais de 50% sofreu com insegurança alimentar.

Para conhecer mais de perto como funciona a dinâmica de trabalho para a População T, segue um trecho da entrevista que a Zahg Academy realizou com Felipe Sidronio, profissional trans que atua no mercado de comunicação. Aperte o play e conheça a experiência dele ao revelar sua condição na empresa.

 

                              Felipe Sidronio - Analista de Marketing


Com todos esses fatos na mesa, não dá mais para ignorar a realidade, é necessário desde já criar medidas e iniciativas com objetivo de aumentar a inclusão da população transexual no trabalho. O mercado publicitário tem grande potencial para fazer a diferença, não só no Mês da Visibilidade Trans, mas em todo o restante do ano.

 

Confira 4 passos para aplicar na sua empresa e participar dessa TRANSformação

 

1. Transborde conhecimento

Antes de qualquer coisa é importante entender o que define a pessoa transgênero. Para isso, há alguns conceitos que você deve ter em mente para evitar ser desrespeitoso.

Identidade de gênero é diferente de orientação sexual. O primeiro se refere ao modo como o indivíduo se identifica com o seu gênero, ou seja, representa como a pessoa se reconhece, seja homem, mulher, ambos ou nenhum dos gêneros. O fator decisor é único e exclusivo em como a pessoa se sente e se percebe perante a sociedade.

Todos que se identificam com o seu “gênero de nascença” é identificado como cisgênero, enquadrando aqueles que se identificam socialmente e psicologicamente com as suas características biológicas do nascimento.

É incluído na letra T da sigla LGBTQIA+ as pessoas que se identificam com um gênero diferente daquele que lhe foi atribuído no nascimento. Aqui é importante frisar que não é necessário a realização de cirurgia de resignação sexual para alguém ser considerado transexual ou transgênero, visto que, conforme já citamos acima, o único fator determinante da identidade de gênero do indivíduo é a forma como ele se sente e se percebe socialmente e psicologicamente.

Ainda há o conceito de orientação sexual, que determina por qual gênero a pessoa sente atração sexual, aqui incluímos os homossexuais (que sentem atração pelo mesmo gênero), bissexuais (atração por ambos os gêneros), heterossexuais (atração pelo gênero oposto), assexuais (que não se sentem atraídos sexualmente por nenhum gênero), entre outros.

É importante lembrar também que ambos os conceitos não possuem relação direta, visto que, por exemplo, uma mulher transexual pode se identificar com qualquer tipo de orientação sexual, independente da sua identidade de gênero.

2. Transmita Respeito

Pouco importa sua opinião social, política ou religiosa, sua única obrigação em qualquer ambiente com uma pessoa transexual é RESPEITAR. Por isso, em pleno 2022, é inadmissível que você repita alguns equívocos e preconceitos, principalmente por vivermos em um mundo conectado em informação, qualquer dúvida que você tenha estará a um clique de distância.

Use termos adequados ao gênero da pessoa: utilize os pronomes corretos de acordo com a identidade de gênero do indivíduo e não ao sexo que lhe foi atribuído durante o nascimento. Por exemplo, quando for falar de um homem trans, refira-se a ele como homem.

Utilize o nome social escolhido por ele/ela: não importa há quanto tempo você conhece a pessoa, jamais utilize o nome anterior, refira-se a ela pelo nome social escolhido. Pode parecer simples para você, mas é de extrema importância para a População T, pois isso valida sua identidade de gênero perante a sociedade. Se você é capaz de chamar um famoso pelo nome escolhido por ele, então também consegue chamar uma pessoa transexual pelo nome que ela se sente confortável. Afinal, ninguém se refere a Anitta como Larissa, portanto não há dificuldade alguma nesse ponto.

Evite perguntas invasivas: não pergunte sobre o corpo de pessoas trans, se já fez cirurgias ou hormonioterapia. Lembre-se que um homem ou mulher transexual não precisa passar pela cirurgia de resignação sexual para ser validado em sua identidade de gênero, questões como essa são desrespeitosas.

3. Transforme o ambiente de trabalho

Você não precisa fazer parte da comunidade LGBTQIA+ para ser um aliado na causa, portanto, tendo todas essas informações em mente agora é hora de partir para a ação e levar conhecimento para as pessoas ao seu redor. Levante discussões, aborde temas relevantes, exponha os preconceitos nos discursos e falas dos seus colegas.

Não espere a inclusão de uma pessoa transexual no seu convívio social para falar sobre o assunto, quanto antes desconstruirmos os preconceitos dos outros, mais rápido transformaremos a sociedade. Assim seremos capazes de criar um ambiente acolhedor e respeitoso para receber um profissional e evitar situações constrangedoras e discriminatórias.

Você pode fazer sua parte independente da sua posição hierárquica na empresa, simplesmente criando oportunidade de diálogo com quem não possui familiaridade com essas pautas sociais.

Além disso, é importante criar iniciativas corporativas internas, estimulando a criação de debates, palestras e roda de conversa entre os funcionários para que a inclusão trans se torne natural e livre de estigmas sociais.

4. Transcreva essa história e crie oportunidades

Até aqui falamos sobre o mínimo que podemos fazer pela inclusão da População T no mercado de trabalho, porém precisamos ir além. É necessário incentivar e estimular a presença de pessoas transexuais em todas as áreas e segmentos, só assim teremos uma real mudança na realidade do grupo no país.

Infelizmente algumas mudanças estruturais não vêm de forma orgânica e natural, pois como vimos acima há uma taxa alta de homens e mulheres trans que, devido à discriminação, abandonaram a escola ou não deram continuidade em estudos de especialização. Por isso, não basta apenas esperar que pessoas do grupo se encaixe nas especificações das vagas.

Uma solução para isso seria a criação de um programa de contratação específico para homens e mulheres transgênero, pois há um abismo de oportunidades na carreira entre eles/elas e pessoas cisgênero. Assim como ocorre em cotas raciais, por exemplo, iniciativas públicas e privadas como essa ajudam a construir uma sociedade mais equalitária.

Além dos avanços sociais nas iniciativas de inclusão, há ainda estudos que comprovam que o ambiente de trabalho diverso também é beneficiado, sendo mais produtivo e criativo. Uma pesquisa da Harvard Business Review, por exemplo, revelou que nas empresas onde o ambiente de diversidade é reconhecido, os funcionários estão 17% mais engajados e dispostos a irem além das suas responsabilidades.

Para isso, vale também investir numa equipe de recrutamento e seleção diversa, isso vai deixar os candidatos mais a vontade e proporcionar uma comunicação mais fluída, evitando também que a discriminação ocorra logo no primeiro contato dos profissionais transexuais com a empresa.

E aí, tem mais dúvidas sobre o tema? Comente aqui embaixo e vamos ampliar o diálogo.


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