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O surto do unboxing no mundo digital e as relações de consumo em excesso e seus impactos ambientais

O surto do unboxing no mundo digital e as relações de consumo em excesso e seus impactos ambientais
Beatriz Honorato
mar. 15 - 6 min de leitura
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Para quem nunca ouviu falar do termo ‘’unboxing’’, nada mais é do que o ato de compartilhar o desembalar de uma compra ou algum presente nas redes sociais. Inicialmente, a prática era vista entre os influenciadores digitais como estratégia de marketing realizada pelas marcas para estimular publicidade gratuita nas redes sociais, o famoso ‘’recebido’’.

Com a democratização da internet e o discurso de que qualquer pessoa pode ser um influenciador, essa prática foi ganhando ainda mais espaço e virando a linha principal de conteúdo entre vários usuários das plataformas digitais.

 

Mas como esse ato de demonstrar tudo que se compra, pode gerar um impacto negativo no hábito de consumo entre as pessoas, e principalmente entre os jovens? E como a indústria da moda lucra com a repetição desse comportamento desenfreado, além de todo esse consumo ser prejudicial para o meio ambiente?

 

A influência do digital nas relações de consumo

Dentre as milhares de informações e bombardeamentos de conteúdos na internet, é inegável a influência que as redes sociais têm sobre os seus usuários e na sua maneira de consumir. Fazendo um recorte para a indústria da moda dentro do digital, o comportamento de quem consome conteúdos que abordam "comprinhas", dicas de moda, looks e itens de luxo, tem crescido de maneira expressiva nos últimos anos, se sobressaindo sobre o debate acerca do minimalismo e o consumo de forma consciente.

 

Através da normalização do consumismo em excesso, muitas vezes, esse comportamento é feito sem ao menos ser notado pelo consumidor. Dessa forma, as pessoas constantemente são condicionadas a pensar que sempre precisam de mais coisas, criando a ilusão que tudo se pode comprar, logo, comprando muito mais do que precisam, sem pensar no que acontece antes do produto chegar até a essa pessoa, como foi produzido aquele produto e como será descartado futuramente.

 

O “efeito Shein” e a indústria fast-fashion

Não podemos falar de unboxing no digital atualmente, sem comentar sobre a absurda popularidade e crescimento da marca Shein no mercado mundial. Na contramão aos avanços do consumo consciente e sustentável, podemos observar a grande massa se fidelizando à marca chinesa, tornando-a uma das maiores fabricantes de moda online do mundo, mesmo não havendo maiores informações sobre o seu Código de Ética, sua regularidade em relação a mão de obra e garantias de direitos trabalhistas, ou mesmo o seu posicionamento a favor da produção sustentável.

Observando o comportamento dos seus consumidores, comprar na Shein parece não ter um limite. Diariamente, são postados nas redes sociais vídeos de compras feitas no site da marca, e uma grande parte desses conteúdos, são compras realizadas em quantidade excessiva, o que naturalmente estimula o aumento no nível de consumo. Com uma simples pesquisa pela plataforma do   Tiktok, as hashtags relacionadas ao tema, possuem milhões de visualizações, ultrapassando a marca de 30 bilhões de views só com a ‘’#unboxig’’.

Por outro lado, é importante analisar os fatores socioeconômicos que levam a expansão de marcas como essa. Podemos usar como exemplo o poder de compra, tendo em vista que são produtos mais acessíveis para os consumidores de variadas classes sociais. Além do mais, a marca possui peças mais inclusivas para diversos tipos de corpos, logo, pessoas gordas ou fora do padrão veem na marca a chance de finalmente consumir tendência de moda com uma maior facilidade e com um preço acessível.

 

Moda e sustentabilidade

Sabemos que indústria da moda é uma das que mais movimentam a economia, gerando milhares de empregos ao redor do mundo. Tendo em vista a rápida expansão do modelo, essa indústria se tornou a segunda mais poluente do mundo, devido a utilização de componentes como tintas de baixa qualidade, insolúveis ou produtos à base de metais pesados. De acordo com o Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae), são produzidas, só no Brasil 170 toneladas de resíduos têxteis por ano. Sendo 80% destinado a lixões e aterros sanitários.

Realidade essa que, com conscientização social e um planejamento sustentável, poderia minimizar diversos danos ecológicos ao longo dos anos.

Para além dessa negligência com a consciência ambiental na produção de lixo, são incontáveis as marcas que trabalham com confecção fast fashion, que é a produção em grade escala, seguindo tendências de moda, em sua maioria, momentâneas, de baixa qualidade e durabilidade, muitas vezes, exercida através de mão de obra escrava/infantil, formando assim, uma série de problemáticas sociais e econômicas que precisam ser reavaliadas pelos consumidores e toda a indústria da moda.

Uma das formas de entender o processo de sustentabilidade é através do tripé: social, econômico e ecológico. Logo, é necessário existir um equilíbrio entre essas características para que algo seja efetivamente sustentável, que se concretiza quando satisfaz as necessidades das pessoas sem comprometer as futuras gerações.

 

É necessário lembrar que o consumo também é um ato político que envolve responsabilidade social e ambiental, onde é fundamental trabalhar o senso crítico para não ser levado tão facilmente com as demandas que o capitalismo impõe.

Em relação a toda influência que o meio digital exerce sobre o ritmo acelerado de consumo, é importante observar quais são os conteúdos que estão sendo absorvidos, quem são esses influenciadores e quais são os seus posicionamentos em relação a essa temática, sempre se perguntando e questionando se realmente você precisa de tudo que é ofertado nas redes sociais.

É urgente a necessidade de repensar sobre a forma de consumo e o quanto antes essa conscientização for trabalhada dentro da sociedade, menor serão os danos a longo prazo. Há muito no que se aprofundar dentro desses temas, mas por hoje, no Dia Mundial do Consumidor, nada melhor do que refletirmos sobre o nosso papel no hábito de consumir e em suas consequências futuras.


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